Era uma vez dois irmãos que moravam na cidadezinha de Herzogenaurach,
na Alemanha. Adolf era introvertido e artesão nato. Rudolf era mais
expansivo, com grande talento para vendas. Por serem tão diferentes,
eles se odiavam. E também por causa disso não conseguiam se separar.
Trabalhavam juntos, na fabriqueta Gebrüder Dassler Schuhfabrik, que em
alemão significa “fábrica de sapatos dos irmãos Dassler”. E, dia após
dia, brigavam.

Mas nos negócios a união da qualidade do trabalho de Adi (diminutivo
de Adolf) e do tino comercial de Rudi (Rudolf) dava muito certo. Eles
tinham criado um tênis mais leve e anatômico do que os modelos pesadões
existentes até então no mercado, e essa invenção estava deixando a dupla
rica, muito rica. Por isso, conseguiam se tolerar.
Foi assim até 1943, época do 3o Reich. Adolf era apolítico, filiado
ao partido nazista por pura conveniência – Hitler incentivava o esporte
na Alemanha, e isso fizera crescer as vendas de tênis. Já Rudi era um
nazista fanático. Em 1943, a cidade de Herzogenaurach foi bombardeada
pelos Aliados. Chegando ao abrigo antiaéreo, Adolf encontrou a família
do irmão e comentou: “Os sujos bastardos voltaram”. A esposa de Rudi
ouviu e achou que o comentário era endereçado a ela e ao marido. Não
adiantou explicar a confusão: a relação entre os irmãos ruiu de vez.
Essa não é a única versão dos motivos da separação. Há quem diga que,
com o fim da guerra, Adi teria entregado o irmão aos Aliados. Mas não
há nada confirmado. Certeza mesmo é que, em 1948, Adolf Dassler
aproveitou uma brecha legal para dissolver a parceria familiar e
renomeou a Gebrüder Dassler Schuhfabrik para Adidas (contração de “Adi” e
“Dassler”).
Rudolf deu o troco. Criou outra fábrica de tênis – a “Ruda”, mais
tarde rebatizada de Puma. A criação das marcas dividiu a cidade de
Herzogenaurach, cortada por um rio. Em uma das margens ficava a fábrica
da Adidas. Na outra, a da Puma. “O rio virou uma espécie de Muro de
Berlim”, escreveu Barbara Smit, autora de uma biografia dos irmãos. O
ASV Herzogenaurach, um dos times de futebol da cidade, passou a ser
patrocinado pela Adidas. O 1 FC Herzogenaurach, pela Puma. Quem
estivesse com peças Adidas não entrava nos bares freqüentados por fãs da
Puma e casamentos “mistos” passaram a ser malvistos.
A competição entre Adi e Rudi era tão grande que, nos anos 70, eles
não perceberam a aproximação de sua verdadeira inimiga: a americana
Nike, que desbancou as duas marcas alemãs. Rudolf morreu em 1974. Adolf,
em 1978. Os dois estão enterrados no cemitério de Herzogenaurach. Em
lados opostos do terreno, claro.
Fonte: http://super.abril.com.br/cultura/inventores-tenis-447770.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super