Um dos álbuns mais icônicos do rock
nos últimos anos, o MTV Unplugged in New York, completou 21 anos no último dia
1º. O disco foi gravado no dia 18 de novembro de 1993, nos estúdios da Sony, em
Nova York, e só foi lançado no ano seguinte, após a morte do vocalista. Foi o
último álbum gravado por Kurt em vida.
Como era de se
esperar, devido ao sucesso estrondoso do grupo, o álbum já estreou em primeiro
lugar na Billboard e ganhou certificados de disco de ouro em diversos países,
incluindo o Brasil.
Curiosidades
O MTV
Unplugged in New York é reconhecido também pelo cenário macabro, que faz alusão
a um velório. A decoração, que incluía velas pretas e um lustre de cristal, foi
sugerida pelo próprio vocalista.
Nessa época,
Kurt já estava sofrendo com a pressão da fama. O abuso de drogas era tema
recorrente de diversos tabloides e essa exposição excessiva incomodava bastante
os integrantes. Cancelamentos de turnês por conta dos problemas de saúde do
vocalista eram frequentes e a gravação do acústico se deu em meio a todo esse
clima de tensão, que era perceptível até para o público. Segundo Charles R.
Cross, jornalista e autor da biografia definitiva de Kurt, “Mais Pesado Que o
Céu”, o público presente no show aplaudia fervorosamente cada canção e cada uma
das poucas interações que Kurt fez com a plateia, tudo para demonstrar
apoio ao ídolo.
Nos
bastidores, a tensão também era presente. Após o show, a banda e os produtores
fizeram questão de reforçar para Kurt que a sua performance “foi espetacular”.
Porém, não correspondendo às expectativas da mídia (que via Kurt como uma bomba
relógio prestes a explodir), o vocalista parecia tranquilo e confiante durante
toda a gravação.
Reconhecimento
A declaração
de que “o show havia sido espetacular” não foi só uma forma de tranquilizar
Kurt. Os jornalistas presentes na gravação já saíram do local com a certeza de
que seria um álbum de sucesso. As versões mais lentas e melódicas das faixas
aceleradas do Nirvana provaram que a banda era capaz de transcender o som
“grunge” de Seattle (estilo que foi rotulado para a banda no início da
carreira) e chegar a uma sonoridade completamente original.
O uso do
violão elétrico, que antes era vetado pela MTV – afinal, tratava-se de um show
“desplugado” – fez toda a diferença e provou que o Nirvana estava em um patamar
de grande importância no mundo da música. Nenhuma outra banda da época
conseguiu ir contra as regras da poderosa MTV norte-americana. Além disso,
a participação do Meat Puppets também não teria agradado a produção
executiva da emissora, por ser uma banda considerada “menor”. Segundo os
próprios integrantes, os produtores queriam nomes como Eddie Vedder na lista
das participações, o que foi prontamente recusado por Kurt, que era fã
declarado do Meat Puppets e fez questão da participação da banda no show.
Além disso, as
versões do Nirvana para músicas do próprio Meat Puppets e também de David Bowie, The Vaselines e Leadbelly imprimiram
toda a personalidade da banda e conquistaram a plateia logo na primeira
audição. Vale lembrar que, ao contrário de muitas bandas, que chegavam a
repetir as músicas exaustivamente durante a gravação dos acústicos, o Nirvana
gravou todo o set em um só take. Kurt chegou a se desentender com um produtor,
que pediu que “Where Did You Sleep Last Night” fosse repetida, o que Kurt negou
de prontidão, afirmando que “jamais conseguiria fazer uma versão perfeita para
essa música”.
Curiosamente, a
performance passional e intensa de Kurt para faixa “Where Did You Sleep Last
Night”, é uma das mais aclamadas até hoje.
O que muitos
não sabem é que quase não havia um roteiro para guiar a gravação. Ao ouvir o
álbum, pode-se perceber que Kurt, Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear
estavam bem à vontade e combinavam a ordem das músicas de forma
espontânea, de última hora.
The Man Who Sold The World
A versão de
“The Man Who Sold The World”, sucesso de David Bowie, foi a parte mais
surpreendente do set. Anos depois, inclusive, Bowie elogiou a versão do Nirvana,
que chegou a ficar até mais famosa que a original. “Eu fiquei simplesmente
lisonjeado quando descobri que Kurt Cobain gostava do meu trabalho, e sempre
quis conversar com ele para saber as suas razões de fazer uma versão para ‘Man
Who Sold the World.’ Foi uma boa interpretação: direta e soava de forma
bastante honesta. Seria bem legal se tivesse trabalhado com ele”, afirmou em
uma entrevista.
“Smeels Like Teen Spirit”
A interação
entre os integrantes também chama muito a atenção no Acústico. Dave
Grohl e sua personalidade extrovertida sempre transpareciam nos shows do
Nirvana, e neste não foi diferente. Ele parecia ser uma das poucas pessoas
capazes de arrancar sorrisos de Kurt. Prova disso é o momento, durante o show,
em que Kurt pergunta qual será a próxima música. O baterista não perde a chance
de fazer uma provocação: “que tal ‘Jeremy’?” (sucesso doPearl Jam). Foi
um dos poucos momentos em que Kurt apareceu rindo na gravação.
Os momentos de
descontração no estúdio, devidamente captados para a gravação do álbum, são
registros que provam que o Nirvana poderia ir muito além dos problemas que os
jornais de fofoca sugeriam. O acústico é para os fãs como uma despedida de Kurt
Cobain, um dos últimos legados que o músico deixou em vida, provando que a
banda ainda é capaz de influenciar várias gerações. “A voz de uma era”, como
Kurt foi classificado nos anos 90, ainda ecoa, mesmo vinte anos depois.
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