De 5 a 21 de agosto de 2016 serão disputados os
Jogos Olímpicos do Rio. A expectativa é que 4,8 bilhões de pessoas no mundo
assistam à transmissão do evento, que vai reunir 15 mil atletas de 225 países e
deve atrair 500 mil turistas ao país. Restando menos de um ano para a maior
disputa esportiva do planeta, os ataques ocorridos em Paris acenderam um debate
sobre a segurança antiterrorismo, especialmente nos países que combatem o
Estado Islâmico. Neste momento de tensão internacional, o Brasil, como sede das
Olimpíadas, corre algum risco de sofrer um ataque terrorista?
“Existe um risco concreto para todas as nações que tenham relações com
os países ocidentais que desenvolvem ações no Oriente Médio. O Brasil participa
das forças de paz no Líbano, ou seja, tem atuação direta no cenário onde os
problemas ocorrem”, alerta Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações
Internacionais da USP.
“Apesar de o Brasil ser um país que não costuma se envolver em guerras
internacionais, as Olimpíadas podem, sim, ser uma vitrine para os terroristas.
Mas desde Pequim-2008 as regras para entrada em arenas e na Vila Olímpica são
rígidas, o know-how adquirido desde então garante um alto nível de segurança”,
opina Adalberto Leister Filho, jornalista esportivo e professor da FAAP.
Casos históricos
Nos Jogos Olímpicos de Munique (1972) e Atlanta (1996) aconteceram
atentados. Na Alemanha, oito palestinos do grupo terrorista Setembro Negro
invadiram a Vila Olímpica e fizeram 11 atletas da delegação israelense reféns.
Durante a operação policial, todos acabaram mortos pelos terroristas. Em
Atlanta, a bomba que explodiu no Centennial Olympic Park, a poucos metros da
Vila Olímpica, matou duas pessoas e feriu outras 112. O atentado não foi
assumido por nenhuma organização radical, mas, anos depois, o suspeito Eric
Robert Rudolph, admirador de grupos religiosos extremistas, foi julgado e
condenado pelo crime.
Algo semelhante é praticamente impossível de acontecer novamente,
segundo os especialistas. “Na época, os membros do Setembro Negro pularam o
muro da Vila vestidos com casacos esportivos e não foram parados pela
segurança, que achou que eram atletas voltando da balada. Agora é preciso ter a
credencial, há um cuidado muito maior”, afirma Adalberto. “Munique foi um
aprendizado, hoje o mundo está muito mais preparado. O Brasil passou bem pela
Copa do Mundo e deve contar com vários sistemas de segurança para prevenir
ataques”, avalia Piquet.
Estamos preparados?
Os ataques em Paris atestaram o poder de adaptação do Estado Islâmico. O
grupo terrorista mostrou-se capaz de driblar os serviços de inteligência de uma
grande potência e ceifou vidas inocentes em uma das maiores metrópoles do
mundo. Para Gunther Rudzit, especialista em segurança internacional e
coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio
Branco, o EI é difícil de ser combatido porque é imprevisível. “Ataques em
aeroportos, aviões, arenas e até mesmo na Vila Olímpica parecem improváveis, há
um grande preparo para esse tipo de evento. Mas o Estado Islâmico preocupa
porque pode atacar restaurantes, bares e casas de shows deliberadamente”, diz.
Segundo Piquet, o Brasil tem tropas especiais bem preparadas, mas faltam
protocolos de integração entre as polícias. “Temos um problema que é a
distância entre as forças de segurança federais e estaduais. Diferente da
França, precisaríamos fazer um esforço de coordenação muito maior para dar uma
resposta organizada a um atentado terrorista”. Adalberto lembra que, durante as
Olimpíadas, o Brasil contará com cooperação internacional na proteção dos
atletas e da sociedade em geral. “A segurança será feita em conjunto com forças
de policiais e de inteligência de outros países com experiência em terrorismo”.
Lei antiterrorismo no Brasil
O projeto de lei que define como terrorismo os atos motivados por
extremismo político, religioso, preconceito e intolerância já foi aprovado pelo
Senado. O texto prevê que quem praticar crime dessa natureza estará sujeito a
pena de 12 a 30 anos de prisão. Em meio à repercussão dos ataques em Paris, a
lei parece necessária para tipificar o que é terrorismo no país. “Precisamos
ter uma legislação adequada. Por mais que o Brasil não seja um alvo direto, ter
a lei antiterrorismo é uma forma de proteger os direitos da sociedade. Sou a
favor”, afirma Rudzit.
O Brasil participa de acordos de cooperação com polícias do mundo todo,
e a lei regulamentará a atuação da polícia em qualquer tipo de atividade
relacionada à investigação de suspeitos. “A lei está encaminhada e finalmente
estaremos alinhados à legislação dos países com os quais temos a necessidade de
cooperar. Ela vai garantir o envio de provas de identificação de grupos e
pessoas que pretendem realizar atos terroristas pelo mundo”, finaliza Piquet.
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